Este passado fim de semana tive a oportunidade de participar em mais um Lisboa Games Week, estando na banca do Massive Galaxy Studios, mas durante o tempo em que por lá estive também pude visitar as outras bancas e ver o que de melhor se faz por cá atualmente.
O Planeta MS-DOS decidiu este ano abordar jogos indie portugueses com inspiração retro, já que a zona da responsabilidade do Museu Nostalgica não tinha qualquer motivo de interesse para o nosso blog (e já fiz a minha apreciação acerca do espaço no Planeta Sinclair), escolhendo especialmente aqueles que pudessem ter uma ligação, ainda que indireta, a jogos desde a época do MS-DOS até ao Windows 98.
Primeiro destaco Blattaria do Blattaria Studio, que me pareceu um dos jogos mais interessantes do evento, mas que infelizmente não consegui ter oportunidade de o experimentar, já que não fazia ideia de que apenas iria estar disponível ao público por um dia. Do que já conheço parece-me um título bastante prometedor, com claras influências dos jogos da Amanita Design. Nesta história controlamos uma jovem barata que na sua viagem descobre que as terras por onde navega são controladas por um regime totalitário controlado por insetos e ratos. Fica também a saber que o seu avô já foi parte de um grupo de rebeldes que falharam um golpe de estado, tendo sido detidos. Assim, temos como objectivo guiar a jovem barata numa missão que continua o trabalho iniciado pelo seu avô.
De relevar a qualidade da arte, toda ela desenhada em papel e depois digitalizada, mas também o facto de não haver qualquer texto, sendo todos os diálogos representados pela mímica dos personagens, por símbolos ou por
cutscenes. Apesar da ausência de texto, existe um rico enredo que nos é contado pelos detalhes do cenário e ao avançar no jogo vamos notando uma evolução do estilo artístico que acompanha o desenrolar da história.
Recentemente este projeto mudou de mãos estando agora a ser desenvolvido por um estúdio que já não é o original, daí que não tenha a certeza se já houve alguma mudança em relação à história que já conhecia. Seja como for, será um projecto que vamos acompanhar atentamente.
Em seguida destacamos Viragon, um jogo que tivemos oportunidade de experimentar tanto a solo com na versão para dois jogadores e pareceu-nos uma verdadeira
hidden gem, já que ficámos imediatamente fãs e não vimos que tivesse tido grande destaque da imprensa. Criado por um developer inglês - Edward Kay - a viver atualmente em Portugal, foi um projeto de seis meses cujo conceito saiu de uma gamejam. Essencialmente é um jogo arcade em que controlamos uma pequena nave que nos lembra o velhinho Asteroids que luta contra uma força alienígena que se replica e aumenta constantemente de tamanho ao estilo do Game of Life.
A jogabilidade é frenética, divertida e além disso os controlos são bastante simples, pois apenas usamos os
thumbsticks para mover e disparar, tornando-se um jogo bem acessível a jogadores de todas as idades, lembrando-nos do melhor que saiu a nível de jogos arcade nos anos 80.
Muito aconselhado experimentar a versão para dois jogadores que pede uma comunicação e coordenação constante para atacar os pontos nevrálgicos da criatura. Também é introduzida uma mecânica nova que nos permite ressuscitar o nosso companheiro caso tenha sido atingido (pairando com a nossa nave em cima da dele) o que se torna bastante desafiante já que a criatura parece crescer de um modo imprevisível. Definitivamente recomendado!
O segundo destaque dentro dos jogos que pudemos experimentar vai para Power the Grid de Claúdio Augusto, um simulador de gestão energética que nos lembra o clássico Sim City, mas com um design clean e moderno. Como gosto deste género de jogos não foi muito difícil convencer-me, mas gostámos de ver a atenção ao realismo e também a incidência num assunto muito atual - a transição das energias fósseis para renováveis e a difícil gestão das duas sem causar falhas que possam prejudicar os consumidores. Aqui devemos gerir o dinheiro que recebemos do serviço de fornecimento de energia para a instalação de novas centrais, painéis solares, eólicas e respectivos upgrades. No caso das centrais que dependem do carvão, teremos de o comprar para reabastecer a central regularmente, tendo o cuidado de gerir o funcionamento dos geradores para que o consumo de matéria-prima não ultrapasse as nossas reservas de combustível demasiado rapidamente e fiquemos sem recursos financeiros para nos reabastecer.
Para alcançar os objetivos financeiros de cada nível não podemos tentar acelerar o processo ligando as nossas centrais a demasiados bairros habitacionais, devendo optar por uma evolução lenta. Caso contrário corremos o risco de ter uma falha no fornecimento, que, caso seja prolongada, nos levará a perder o jogo. Vimos que tem bastante potencial, mas precisa de mais algum trabalho de desenvolvimento. Com mais algum investimento de tempo (e também financeiro, claro) acreditamos que poderá ser um título de sucesso caso continue o caminho que tem vindo a trilhar até ao momento.
Finalmente, guardámos o melhor para o final - Exophobia de José Castanheira, o vencedor do prémio Spotlight do Lisboa Games Week. Temos um First-Person Shooter com claras influências de clássicos como Wolfenstein 3D ou Doom e um look retro muito distintivo. Pude experimentá-lo utilizando um comando, o que levou a que demorasse algum tempo a habituar-me, mas felizmente o jogo vem configurado de origem para ser usado com o teclado com a configuração clássica dos jogos do género. Bastante divertido e viciante, gostei do ambiente de ficção científica e de poder explorar a base espacial com vários segredos escondidos pelo caminho, cartões que temos de recolher para ter acesso a áreas bloqueadas e níveis quase labirínticos. Poderá beneficiar de mais algum desenvolvimento, nomeadamente na construção de cenários mais diferenciados, até para facilitar a nossa orientação e novos inimigos que nos dêem uma experiência de jogo mais desafiante, mas para já parece-me um título muito prometedor. Iremos segui-lo atentamente, com esperança de que a divulgação que terá no próximo Gamescom (o prémio que venceu deu-lhe direito a um bilhete para este evento) o ajude a levar este projeto a um outro nível.
Concluímos com a ideia de que a qualidade dos jogos em Portugal continua a melhorar a um ritmo cada vez mais rápido e que estamos certos de que não faltará muito para que tenhamos um sucesso internacional. Peço desde já desculpa a todos os jogos que não foram referidos, mas como devem compreender, não tive muito tempo para os experimentar a todos. Além disso, muitos deles pertencem a géneros mais "modernos" e que não encaixariam bem neste blog ou a sua qualidade atual ainda deixa muito a desejar e preferimos esperar que estejam num estado mais avançado de desenvolvimento antes de os referir aqui.